Belca: arte e Saúde Mental na superação da Síndrome de Burnout [ATO 1]

Conheça a história de Belca, uma artista visual que entrou em contato com a Campanha Janeiro Branco e nos emocionou com a sua trajetória, a sua coragem e a maneira como se (re)apropriou da escrita (da produção!) da sua própria história de vida!

Vamos lhe contar essa história em três etapas, em três posts aqui no Blog do Janeiro Branco – ou, em outras palavras, em três atos, como Belca também nos contou por meio de um relato bastante sensível sobre os caminhos que a levaram à arte e a uma explosão de cores, de criatividade e de Saúde Mental em sua vida!

ATO 1: O BURNOUT

Belca e a arte que ajudou na reescrita da própria história de vida

“Eu quero voltar pra casa” – foi a primeira frase que disse para a Psiquiatra quando cheguei no consultório pela primeira vez.

Eu me sentia longe da minha identidade, eu não reconhecia meus valores nem os meus sentimentos, nem meu humor, nem meu corpo. E é tudo tão confuso e invisível. Sim, isso é a Síndrome de Burnout.

Ela chega quieta e traiçoeira, em poucos meses está instalada e você nem percebeu. Quer dizer, perceber, percebeu, porque você teve uma dor de cabeça ou distúrbios gastrointestinais ou enjoos ou tonturas ou ficou com o coração acelerado ou teve insônia ou teve tudo isso junto. Esses são alguns dos sintomas físicos e perceptíveis do Burnout.

Eu disse traiçoeira porque, mesmo sentindo tudo isso, há uma enorme dificuldade de entender, de se concentrar, de interpretar, de se organizar e você começa a acreditar que isso é incompetência sua e se sente um derrotado.

Isso se agrava quando não se tem uma gestão treinada e até caberia dizer “humana” para ajudar, mesmo que você peça ajuda.

Arte da artista Belca inspirada na Campanha Janeiro Branco

O QUE ACONTECEU COMIGO?

Apesar de trabalhar muito, tudo ia bem em Outubro de 2018, eu havia até recebido um aumento salarial pouco tempo antes, o que me deu a entender que a empresa onde eu trabalhava estava satisfeita com a minha entrega e que, com um aumento, diminuiriam as chances de eu me interessar por outro emprego, em outro lugar. Bom para ambas as partes, eu diria.

Foram 8 anos de trabalho, 3 promoções, alguns aumentos salariais, diversos reconhecimentos até o dia que o time implodiu. De 10 ficamos em 3 pessoas e, por alguns momentos 2 considerando as férias que são recorrentes no último mês do ano. Nesse período eu trabalhei de manhã, de tarde, de noite e de madrugada. Para a área que eu trabalhava esse era um mês intenso, com renovações de contratos importantes e fechamentos financeiros. Até aí, essa era a funcionária que a empresa conhecia, eu sempre me dediquei e principalmente, sempre me importei. Eu já tinha vivido momentos intensos assim antes lá mesmo.

Mas uma coisa foi diferente nesse período: eu recebi muitos, mas muitos feedbacks negativos. Sofri represália por ter esquecido uma palavra em um e-mail, acordava com mensagens no celular falando que estavam reclamando de mim, escutei que “apanhava” em reuniões, tive erros ressaltados dia sim, dia também. Apesar dos feedbacks sempre chegarem acompanhados de um “eu quero te proteger”, eu sabia que sofria requintes de assédio moral.

Juntou o cansaço com essa crítica recorrente e sem perceber, eu entrei em estado de burnout ou, esgotamento profissional.

O ano de 2019 começou com um time novo mas eu já estava tomada pela síndrome, sem saber. Apesar de continuar trabalhando bastante, minha performance era baixa, eu me esquecia dos combinados da reunião do dia anterior, tinha apagões de memória, fazia muitas confusões mentais. Comecei a me isolar, não sabia mais quais eram os meus valores, os meus limites, não conseguia me concentrar, ficava muito irritada e chorava frequentemente.

No meu corpo haviam muitos sinais, mas sei lá o que dá na gente nesse mundo louco onde o trabalho vira a razão do nosso viver. Eu estava perdendo muito cabelo, eu desenvolvi uma apertamento dentário (os músculos da boca ficam contraídos involuntariamente), o que me gerou trauma nos dentes. Eu tive problemas gastrointestinais por 50 dias e perdi 8 quilos que me deixaram tão magra que parei de menstruar. Uma coisa puxa a outra e as consequências foram diversas, severas e duradouras.

Com tudo isso acontecendo no meu corpo físico e com tanta reclamação em relação ao meu trabalho e performance, como pedir uma licença ou até mesmo uma manhã para ir ao médico? Pareceria uma afronta.

Reescrevendo, e assinando, a própria história de vida

Fui descobrir que estava com a Síndrome de Burnout em março de 2019, iniciei o tratamento terapêutico imediatamente porém o tratamento psiquiátrico fundamental para quem sofre dessa síndrome aconteceu apenas após a minha demissão que aconteceu em maio do mesmo ano. Apesar da surpresa de ter sido demitida doente, finalmente tive tempo para buscar tratamento. E pasmem: a síndrome de burnout pode acometer rapidamente mas são pelo menos 2 anos para uma recuperação completa. Na data em que escrevo este texto (1º de Setembro de 2020), me afasto por 22 meses do momento inicial do ocorrido e me sinto capaz e organizada mentalmente para dividir isso com vocês com a intenção de conscientizá-los da dura recuperação dessa síndrome e tentar ajudá-los a perceber quando essa doença se aproximar.

Pra finalizar, posso dizer que trabalhei muito e chutei muito pro gol. E quem chuta muito pro gol, faz gol e também erra.

E, sendo honesta e gentil comigo mesma, eu sei que joguei pra valer, mesmo no meu pior estado eu joguei pra valer e só saí da partida quando me tiraram do campo.

Para mais informações sobre Belca: www.belca.com.br

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